domingo, 27 de novembro de 2011

Há quase um mês... de Nádia Bochi

A vontade de escrever me persegue, mas faltava atitude.
Pra comemorar esse reencontro apaixonado, hoje não vou falar nem de palavras, nem de trabalho. Quero contar uma história, daquelas bobas, gostosas de ouvir.
Do tipo que começa com era uma vez...
E de fato era...

Um dia há muito tempo, duas crianças brincavam de patinar na neve.
Felizes? Talvez. Mas certamente alegres, pois fazia sol e era inverno - a gente sempre se alegra, ainda que triste quando faz sol no inverno.
Também é certo que se divertiam, porque não há como não se divertir em boa companhia quando somos anjos inocentes. Enfim, brincavam até que o gelo sobre o lago rompeu e uma delas caiu e ficou submersa.
Ao ver a amiga presa, a pequena colega se desesperou e tentou ajudá-la. Quase sem forças, porque de fato era muito pequenina, a menina tirou um dos patins e começou a golpear o gelo.
Golpeava e gritava por socorro, golpeava e gritava.
Até que conseguiu... Salvou a amiga.
Nesse momento a ajuda chegou. Vizinhos assustados com os gritos correram para o local. Surpresos buscavam, sem sucesso entender como uma criança tão frágil podia ter conseguido tal feito: romper uma grossa barreira de gelo e salvar a amiguinha.
Passaram muito tempo discutindo, enquanto a garota se aquecia.
Ninguém parecia ter explicação até que um sábio que passava pelo local se intrometeu na convesa e esclaresceu a questão. Ele disse: a resposta é simples, a menina conseguiu salvar a amiga porque não havia ninguém por perto pra lhe dizer o que ela não era capaz de fazer.
Sábia resposa!

Adoro essa história.
Um conto simples, delicado.
Por sem/cem razões, tenho pensado muito nele nos ultimos dias.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Algodão doce de Nádia Bochi (eu Mô amo este aqui)

Hoje caminhei pela cidade à tarde e centro de cidade pequena tem sempre magia...
Por causa da semana das crianças, muitas mães eram arrastadas pelos filhos nas ruas. Havia uma fila enorme pra raspadinha, outra ainda maior para o algodão-doce. Uma campanha promovia brincadeiras e distribuia doces para os donos da festa. Uma senhora me sorriu orgulhosa com a nuvem branca nas mãos. Vi, nos olhos dela, um brilho quase infantil, mas logo ela recobrou a seriedade e foi embora levando os netos pelas mãos. Continuei caminhando...
Às vezes tinha uma sensação de que algumas pessoas me reconheciam. Algo diferente de quando estou trabalhando, algo como um ar interiorano que desconfia de forsateiro. Comi um pão de queijo quentinho. Fiquei horas prestando atenção nos detalhes...
Em frente a um carrinho de cachorro-quente, famílias inteiras devoravam o lanche. Alguns carros parados carregavam bocas e dedos cheios de mostarda e ketchup, uma espécie de dog-thru. A ruela tranquila terminava em uma pracinha. Assisti a tudo e, por um momento, senti inveja daquela alegria simples.
Queria sentar com eles, fazer parte da brincadeira... Contar como havia sido o meu dia, confessar que naquele momento eu me sentia quase só.
Não que eu estivesse triste, muito pelo contrário, de fato eu estava caminhando porque estava feliz.
Queria ver mais, dividir tudo aquilo que pulsava comigo... Mas por um instante, por um pequeno instante, eu quase me perdi. Por pouco, bem pouco, não esqueci de ser eu, pra me desmanchar como algodão doce, na boca pura de uma criança feliz.

GRAÇA da vida... de Nádia Bochi

É incrível a capacidade que a vida tem de nos surpreender...
A gente nasce, demora vivendo e logo descobre que este milagre acontece não uma, mas infinitas vezes. Meio desavisados, vagamos por aí com nossos sonhos e medos na bagagem. Viajamos com eles por mil lugares, transformamos cidades em cenários e invadimos almas.
Ficamos um pouco por cada caminho, seguimos meio inteiros, meio faltantes nessa busca por alguma parte que nunca termina.
Quando por vezes duvidamos da razão de tanta caminhada, algo acontece. Algo como uma brisa que revigora a energia numa manhã bem quente; um sinal de estrada que indica a direção, que aparece quando já estamos bastante perdidos; ou ainda uma noite sabor morango, que faz o coração ameaçar bater de novo.
Simplicidades e surpresas que confirmam nossa capacidade de nascer e renascer, por vezes sem fim.

Eu hoje de Nádia Bochi

quero a sensação de ter tudo a dizer, mas não dizer nada! Quero os suspiros contidos em pensamentos distantes; o gosto da novidade; o andar distraído...
Quero a ausência das pretensões, torpor de calor e as rimas fáceis da vida versada sem versos... Versada aos parágrafos, aos aglomerados de palavras, aos impulsos, e às enumerações sem fim - que espero não cansem o leitor.
A semana explodiu em novidades! Quando o sonho vira real fica estranho acordar sonhando... Deliciosamente estranho! Caminho meio que sem freios por aí, como se finalmente soubesse pra onde estou indo. Mesmo que não tenha a menor idéia do que vou encontrar na esquina.
Estou em extase pelos elogios fáceis e pelas rejeições incompreesíveis! Minha alma mudou e o corpo acompanha, sou eu e sou outra; a mesma, mesmo que nem sempre me reconheça. Sinto a menina crescendo. Algo como uma invasão mulher que toma conta sem aviso mas continua moleca, sem muito medo da vida e tentando perder cada vez melhor o juízo.

domingo, 6 de novembro de 2011

Reedito de Nádia Bochi

Às vezes o tempo passa tão rápido que nos leva pra longe.
Quando corro demais, assim como nesses últimos dias, me pergunto pra onde.
Talvez a verdade esteja em estar assim, perdida pra dentro e pra fora de mim.
Busco tanto, o tempo todo que no meio de tantas histórias me acho.
Um pouco nas perdas, nos encontros... Nos sonhos que nem são meus, nas lutas que compro sem sequer saber como lutar.
Uma sem-rotina que encanta!

Sou perguntas de muitas respostas, que se reinventam na confiança de estranhos.
Se nas idas divido com quem sente, sem tantos porquês. Nas voltas, reencontro nas dúvidas que ninguém sabe dizer, minhas próprias perguntas.
Assim, a vida se recomeça e me reinventa de repente. A cada chegada, em cada partida.
E daí, quando páro, depois de tanta procura me permito não saber.

Sou feminista! de Nádia Bochi

Uma afirmação nada simples.
Frase que faz barulho!

Ser feminista nunca deve ter sido fácil, principalmente nos anos 60 - quando falar de igualdade de gênero era fazer revolução. Mas hoje, a briga ainda é boa. Essa falsa atmosfera de igualdade me revolta!
A maior prova da força do machismo vai além das estatísticas que ainda mostram que um terço das mulheres são agredidas pelos companheiros dentro de casa; supera a força das pesquisas que revelam que as mulheres ainda ganham menos que os homens, pelo mesmo trabalho. Ela está no esvaziamento do sentido da expressão feminismo. Ser feminista hoje é démodé, é coisa de mulher mal amada, de sapatão.
O motivo:
A sensação geral é de uma satisfação hipócrita.
Consigo ouvir uma voz grave gritar: meninas vocês já conseguiram o suficiente, voltem pra suas rotinas e parem de nos incomodar!

Ontem ouvi tantos parabéns, tantos votos de feliz dia das mulheres... Foi uma conspiração universal!
Como comemorar a morte de 129 operárias numa fábrica americana que lutavam por condições suportáveis de trabalho?
Como dar flores e abraços a mulheres que são oprimidas todos os dias?
No meu caso em especial, porque desafiar meu feminismo?

Apesar e justamente por todos vcs que não entendem a importância dessa bandeira: sou feminista, sim!
Feminista do tipo que respeita as guerreiras que saíram as ruas pra garantir meus direitos de hoje; que tem admiração por quem morreu nas fogueiras, ou nas fábricas pra que eu pudesse hoje sonhar viver diferente; ter o direito de me sentir igual.
Sou feminista do ano 2000, que sabe que a briga mais difícil de todo dia ainda é por respeito.
Não aceito os parabéns!




(COMCORDO COM A NÁDIA)
Anatália Nery (Mô)