sábado, 21 de julho de 2012

“Minha criança de todos nós”


Minha criança carrega o melhor de mim, ela ainda gosta de abraço caloroso, proteções misteriosas e de um modo de rezar que o adulto nunca mais conseguiu. Diariamente passeio com ela. É também com quem converso as histórias infinitas que somente a imaginação pode conceber no universo mágico. Ela sempre vem nas decisões de algumas de minhas responsabilidades adultas.

            Eu quando criança tinha o costume de deitar no chão da sala. Minha mãe lavava a casa, eu deitava e dormia, caia no sono profundo. Aquele chão bem limpo e gelado me fazia descansar. Eu olhava as nuvens e pensava que elas eram de algodão doce, imaginava que elas eram desenhos. Ainda lembro-me dos corações, animais, eu achava incrível olhar as nuvens, o céu, ele pra mim sempre tão azul. A noite eu ficava olhando as estrelas ao som de Sandy e Júnior, a cada estrela que passava; um pedido meu. E pela manhã o sol brilhava e me fazia sorrir.

            Quando criança queria voar, chegar ao fim do mundo, encontrar a fada dos dentes, ir para o mundo encantado, escrever uma carta para o Papai Noel, visitar o sitio do Pica-Pau Amarelo, estudar na escola de Hogwarts, queria ir à Fantástica Fábrica de chocolate, ter superpoderes, queria ser médica e das minhas bonecas eu ia cuidar. Eu vivia as aventuras mirabolantes, ficava invisível, meus olhos viam mil quilômetros, atravessava paredes, os ouvidos ouviam além das barreiras do som.

            Lembro-me também dos meus medos, as noites de tempestades que me davam arrepios, os pesadelos, as histórias do bicho papão que se escondia no guarda roupa, o medo de ir ao dentista, o medo do escuro...

            Hoje me pergunto: desde quando eu deixei de me questionar? Aquelas perguntas bobas que eu fazia, como: Por que o céu é azul? De onde vem à chuva? Onde começa e termina o arco-íris? Por que a gente cresce? De onde a gente veio? Porque mãe? Desde quando eu parei de dizer a minha mãe, que eu ia para a casa de uma amiga brincar? Desde quando eu deixei os meus brinquedos de lado? Desde quando eu deixei de ser criança?

            Correu o tempo, hoje não mais criança, e vejo que já não tenho mais o direito de errar como eu errava antes, não posso mais sair nas ruas com as mãos sujas, com qualquer roupa, de qualquer jeito. Tenho que ter uma postura impecável diante da sociedade, não posso mais falar errado. Tenho que fazer faculdade, tenho que ser doutora!

              Os sonhos que eu tinha, foram se perdendo no ar, desiludidos pelos mais velhos, que já deixaram de sonhar, e que a acabaram um dia esquecendo-se de que já foram crianças. A falta de tempo me persegue, e o mundo sempre pedindo mais de mim. Trabalho, trabalho, dinheiro, trabalho, por onde a criança se perdeu? Na verdade “Quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor” estou me torno mais crítico, estou perdendo o dom de encontrar a felicidade nas pequenas coisas, sinto dificuldades em manter as minhas opiniões e crenças. Perdi o costume da criança inocente!

            Mas apesar de tudo isso, eu quero ser criança de vez em quando pra eu poder falar sozinho sem me importar com ninguém, lamber os dedos sem culpa depois de se lambuzar todo com chocolate, lamber a tampa do iogurte, de falar bobagens de vez em quando, de fazer bagunça, de gritar, de sentar na frente da TV pra ver desenho animado!

            Minha criança vem no meu peito bem guardada, e a peço que nunca me abandone, pois sem ela, os espelhos não são mais portais, os corredores perdem os mistérios. Eu crescerei, envelhecerei, mas tu tens que ficares bem jovem, para que não morra, quero que você esteja sempre sorrindo, quero que ache que no fim do arco-íris tem um pote de ouro, quero que tenha a certeza de que veio ao mundo para alguma missão. Não adormeça pequenina, segure minhas mãos, quando o peso dos anos chegar!

            É necessário amadurecer, porém não é muito sadio “adultecer”. Endurece o coração e mata a alma, quem amadurece, apesar de todas as responsabilidades, faz questão de ser criança de vez em quando! Ser criança é perseguir a felicidade, é esquecer um pouco das responsabilidades sem ser irresponsável, é nascer de novo a cada dia...

Tenha seriedade, mas não seja rígido,

Reserve um dia da semana pra ser criança de novo,

E veja como é bom sorrir de verdade!
 

Agradecimento a Nádia Bochi pelo titulo da crônica e pela força de publica-la.
Veja o que Nádia Bochi falou sobre a crônica:

Nádia Bochi:
Hoje finalmente li seu texto e me emocionei muito! Você escreveu com a alma! Dá pra sentir o tamanho da emoção que colocou nas palavras!

Conheço bem esses medos de crescer, de se perder, de ser grande. Crescer pode não ser fácil em muitos momentos, mas é nesse processo que está a beleza e o maior aprendizado da vida!{...} No fundo, por mais diferente que sejam as pessoas, são muito parecidas. Falar do quintal de casa é o melhor jeito de conquistar o mundo!{...} Siga em frente na sua escolha, seja de ser repórter, escritora, astronauta. Faça com coração, como fez o seu texto e tudo tem uma chance enorme de dar certo!{...} Publique o texto! É uma bela crônica que poderia chamar,

 "Minha criança de todos nós". Grande abraço! NB

3 comentários:

  1. Você deve está realmente muito orgulhosa de si mesma pelo belo trabalho que vez.Gosto de você por isso por não ter medo de falar o que sente. Parabéns!

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